A minha Busy Board
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Já há algum tempo que o meu filho tem vindo a demonstrar que necessita de outro tipo de estímulos e que gosta de trabalhar a fazer outras actividades. O primeiro pensamento que me ocorreu foi: “Chegou a hora dele ter uma busy board!”.
Em Montessori, trabalhar é o nome que se dá a brincar.
Diz-se que a criança está a trabalhar quando está brincar, porque está a exercitar o cérebro, as capacidades emocionais, sociais, psicomotoras, etc.
Tal como todos os bebés, o meu filho sempre gostou muito de mexer nos interruptores das luzes, de abrir as portas dos armários da casa toda, de ser ele a meter a chave na fechadura da porta da rua, e por aí fora.
Penso que já percebeste onde quero chegar.
Muito provavelmente identificas-te ou identificas alguém que está a passar esta maravilhosa fase da descoberta.
Enfim, é todo um mundo novo para eles, e faz todo o sentido que o explore.
A busy board (ou painel sensorial) é um quadro que tem várias actividades para a criança explorar.
Desta forma, ajudam-na a trabalhar em várias vertentes (já mencionadas acima), inclusive a motricidade fina.
Antes de iniciar este projecto, pesquisei muito.
Inteirei-me melhor sobre o que era uma busy board, quais as suas possibilidades e quais os diferentes tipos que existem.
Reparei que existem muitos, mas mesmo muitos tipos diferentes.
Cada qual tem um conjunto de actividades diferentes, e é quase impossível encontrar duas busy boards iguais.
Até porque simplesmente o conjunto de actividades a representar é tão vasto, que seria impossível agregar tudo numa só.
Ficaria enorme, já para não dizer muito confusa.
A juntar a tudo isto, existe também uma grande variedade de cores.
Muitas delas são tão fortes que retiram a atenção da actividade em si, e centram-na no objecto.
Não era esse o caminho que queria seguir, e penso que (infelizmente) a vertente comercial tem um papel predominante a desempenhar neste tipo de busy boards…
Decidi então que teria que ter muitas fechaduras, das mais diversas variedades.
E interruptores, se possível que acendam mesmo uma luz, para se ter a percepção da causa-efeito.
Fui então às compras (algumas coisas encontrei localmente, outras tive que encomendar pela internet).
Depois foi uma questão de fazer um esboço que como iria dispor os vários elementos, consoante as medidas que iriam ter e o espaço que iriam ocupar.
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Claro, foram necessárias várias tentativas antes de acertar, mas afinal de contas, os protótipos servem para isso mesmo: para vermos se a nossa ideia funciona realmente!
Queria também dar uma funcionalidade extra às portas, além do simples gesto de as abrir e fechar.
Claro que os bebés ficam entusiasmados apenas com o simples facto de abrir uma fechadura e a porta (e repetem vezes sem conta até aperfeiçoarem o gesto).
Mas não seria muito melhor se por detrás de uma porta, estivesse uma fotografia ou um desenho, em vez de um simples buraco, por exemplo…?
Seria um estímulo diferente, e até recompensador.
Daí que tive a ideia de fazer as portas com as dimensões adequadas para colocar lá dentro fotografias de 10x15cm, se assim o quisesse.
Podem-se colocar lá as nossas fotografias ou as dos nossos familiares.
Ou então desenhos de animais.
E que tal contar uma pequena história através das diferentes portas?
Ou brincar ao jogo da memória, e lembrarmo-nos onde está uma fotografia ou o desenho específico?
Ou contar até 7?
Ou mostrar as primeiras 7 letras do abecedário?
A imaginação não tem limites, e neste caso, é só dar asas à imaginação.
Claro, também não quis que todas as portas fossem iguais e que abrissem sempre para o mesmo lado.
Por isso, existem portas a abrirem em todas as direcções.
Outra questão que surgiu foi como iria colocar as dobradiças nas portas… vi as várias formas possíveis, e optei pela mais difícil e trabalhosa (porque o espaço para trabalhar é muito limitado, dado que as portas são pequenas) e que, no fundo, é como são colocadas em qualquer porta normal.
E esteticamente fica bem mais apelativo do que ter as dobradiças presas pelo lado de fora.
Os bebés têm um sentido apurado para apreciar arte e percebem o que é bonito ou feio.
Optei também por colocar interruptores com as 3 cores primárias, para ele começar também a identificá-las, e um outro que sobe e desce.
Agora um pequeno aparte… confesso que ele não liga muito a este último, e se calhar até estava a pensar um pouco em mim, porque fez-me lembrar os interruptores dos cockpits dos aviões e helicópteros…
Sim, a construção desta busy board fez viajar-me um pouco no tempo e voltei à minha infância!
E de vez em quando sabe bem imaginar que levantamos voo e ligamos o turbo…
A rodinha preta, claro, tinha que fazer parte, porque sabia de antemão que ele iria gostar de mexer e de a ver rodar.
E a aposta foi ganha, porque todos os dias é colocada a rodar…
E como ele gosta de acender e apagar as luzes cá de casa, coloquei também um interruptor normal para que ele pudesse treinar.
Mas sentia que faltava algo, um interruptor verdadeiro, onde ele pudesse realmente acender e apagar uma luz.
Optei então por um que não tivesse a luz muito forte e que desse para controlar a intensidade.
Claro, escusado será dizer que adora brincar com este também.
E o labirinto sem saída, que está em baixo? É um desafio que optei por fazer, e que até a mim me apetece brincar.
As roldanas permitem-lhe também puxar as cordas para cima e para baixo, e com as fitas de várias cores consegue ter uma percepção melhor do movimento que faz.
Além do extra que é ver as fitas a andarem.
O cadeado preto…. confesso que vai ser um desafio enorme, até porque por vezes nem mesmo nós, adultos, acertamos bem na combinação.
Mas faz também com que esta busy board tenha um tempo de vida bastante longo.
Além de que, pode-se usar este tipo de cadeado para prender as correntes, ou prender a fechadura de outra porta, por exemplo.
Em relação à estrutura em si, tive que colocar um painel traseiro para proteger não só as pequeninas mãos de irem mexer onde não devem (podendo aleijar-se), mas também as zonas onde esta busy board pode encostar (paredes, móveis, etc.).
Cá em casa, costumamos encostar a um sofá ou a um móvel.
É possível também colocar uns suportes traseiros (na parte superior) para não oscilar quando se encosta nalguma superfície vertical desnivelada (uma parede em que existe a margem do rodapé, etc.).
Podia optar por deixá-la encostada a uma superfície sem nenhum apoio, mas os bebés são pequenos exploradores natos, e muito facilmente poderia cair-lhe em cima, ferindo-o seriamente.
Para se manter em pé sozinha, fiz uns pés de forma a sustentar toda a estrutura. Deixei também um espaço para que seja possível colocar uns pés traseiros, não vá ser necessário colocá-la nalgum sítio onde não seja possível encostá-la
Desta forma, aguenta-se sozinha.
Decidi moldá-los e dar um pequeno toque de arte, para que não sejam apenas paralelepípedos em modo bruto e sem graça.
E assim também não perdem a sua funcionalidade.
Claro que todas estas precauções não invalidam que esteja um adulto por perto a supervisionar… afinal, os bebés conseguem testar os brinquedos ao limite.
Confesso que as protecções laterais não fizeram parte do plano inicial, mas foram colocadas por sugestão (e bem) da minha mulher.
Mais uma vez, os protótipos servem para isso mesmo, para alterar o projecto à medida que se vai realizando.
E as mulheres têm sempre boas ideias.
Sempre é um resguardo extra e é menos uma zona passível de ser explorada.
Tive que colocar também uma pega, porque trata-se de um objecto com dimensões grandes e já algo pesado no seu todo, e assim fica mais portátil e fácil de manusear.
Quando chegou a casa, dissemos ao L que tinha uma surpresa à espera na sala.
Todo contente, lá foi ele ver o que era… e claro, a sua cara iluminou-se de alegria assim que a viu!
Nem sabia bem o que fazer, tal não era a quantidade de coisas novas para mexer e fazer!
Ficou, sem exagero, 20 minutos a brincar com a surpresa (como ele a baptizou)!
20 MINUTOS!
20 minutos num bebé significam umas 2 horas!
Impressionante ter-se mantido focado tanto tempo!
Claro que cada bebé tem os seus objectos preferidos, e o do L é a rodinha preta, que farta-se de rodar e nunca se cansa.
Também fiz esta busy board tendo em conta os requisitos do meu cliente.
E claro, para isso é importante seres um pai consciente, estares presente e conheceres o teu filho.
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“O L gosta da surpresa”, repetiu vezes sem conta enquanto brincava.
E claro, encheu-me o coração ouvir estas palavras e vê-lo a brincar com algo que eu fiz, fruto das minhas próprias mãos, utilizando apenas ferramentas manuais.
Obrigado pela tua presença.
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