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Como trabalho a madeira

Esta semana dei início a um novo projecto. Confesso que não consigo estar muito tempo sem mexer na madeira, sem construir algo com as minhas mãos, de forma artesanal. Faz-me sentir útil. A forma como trabalho a madeira é primordial para alcançar os níveis de excelência a que me proponho, e para o meu bem-estar.

Não faz sentido ser de outra forma.

Serei eternamente exigente comigo próprio, o que é diferente de ser perfeccionista.

A busca incessante pela perfeição pode levar-nos a estados de ansiedade e de depressão. É importante perceber quando devemos parar.

Não é bom para a nossa saúde tentar chegar a um estado que não existe.

Não nos podemos enganar.

A viagem tem um propósito maior do que o fim em si, e tem muito mais sabor se podermos se soubermos aproveitá-la.

No final, o que importa é compreender que estamos a crescer com o caminho que escolhemos percorrer, e que para isso temos que estar alertas, conscientes.

O facto de procurarmos a perfeição, faz com que nos esqueçamos da viagem e nos foquemos apenas no resultado final.

E com isso podemos procurar caminhos alternativos, mais rápidos, que podem levar-nos ao nosso objectivo, mas que não nos fazem crescer durante a viagem.

Escolhi esta forma de trabalhar porque dá-me satisfação.

Esqueço tudo o que está à minha volta e concentro-me na tarefa que tenho em mãos. Todos deveriam a oportunidade de fazer realmente o que gostam, pelo menos uma vez, nesta passagem por este planeta.

 

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Ontem foi dia de comprar mais madeira para o meu novo projecto. Será algo para o L brincar e para se exercitar um pouco (esperemos que sem muitas nódoas negras!).

Existem muitos locais onde se pode comprar madeira, desde as grandes superfícies comerciais até às serrações propriamente ditas. E dentro das serrações, existe uma grande variedade.

Confesso que apenas compro madeira nas grandes superfícies comerciais quando preciso de tipos de madeira de baixa qualidade, ou de algo apenas para desenrascar. Depende muito do projecto que tenho em mãos. A variedade também não é muita e a forma como é armazenada deixa um pouco a desejar. A escolha é complicada porque é difícil encontrar madeira que não tenha algum tipo de empenamento.

Para este novo projecto, apesar de ser um protótipo, tinha que ter madeira de boa qualidade, porque a segurança do L é um factor primordial.

A serração oferece-me essa garantia, porque só lá é que consigo encontrar o tipo de madeira que preciso.

Neste caso, era Faia.

E, claro, é sempre bom perceber qual a origem da madeira, e se tem o carimbo FSC

 

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Após a escolha da prancha de madeira que queria levar (chama-se prancha à tábua comprida, neste caso são 2,30 metros, que é serrada do tronco da árvore), foi necessário perceber se caberia no carro…

Houve algumas dúvidas porque o carro é pequeno, mas com alguns ajustes, consegui trazê-la inteira!

madeira madeira

Ao chegar à minha oficina, é tempo de perceber como vou trabalhar a madeira.

Os esboços e as medidas já feitas ajudam muito, e foi só perceber como serrar a madeira para aproveitar ao máximo as partes que não são necessárias para este projecto.

Tento não desperdiçar nada, e os bocados que não são necessários podem vir a dar jeito para futuros projectos. Nunca se sabe.

Assim, serrei a prancha de alto a baixo, e separei o que me interessava do que não queria.

madeira

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Foram 2,30 metros a serrar manualmente, sempre a seguir uma linha previamente traçada!

De seguida, medi uma das peças que me interessava e serrei-a novamente com um corte transversal, desta vez mais curto.

Desta forma, estou a treinar e a aperfeiçoar as minhas habilidades. A minha destreza e sensibilidade aumentam e sinto uma energia revigorante que me fazem continuar e querer mais.

E gosto do exercício físico que se gera com esta actividade.

Como vês, depois de serrada com as dimensões aproximadas, fica com um aspecto tosco.

Estes cortes que se vêm são o resultado dos cortes feitos na serração, pelas serras das máquinas eléctricas.

Não é este o resultado pretendido, e por isso é necessário agora desbastar esta camada superficial.

Utilizo para isso uma plaina de desbasto rápido, que dá um aspecto ondulante.

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Plaina de desbaste rápido
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Comparação entre superfície a aplainada e a superfície tosca

Algumas pessoas até preferem que as peças de madeira fiquem apenas desta forma, porque dá uma sensação única ao toque e fica com um aspecto rústico. Não deixa de ser interessante.

madeira

Confesso que esta é uma fase exigente, a nível físico.

Requer paciência e resistência.

Dependendo da quantidade de desbaste que é necessário fazer, sinto o coração a bater mais depressa, a bombear sangue mais rápido para todo o meu corpo.

A frequência mais acelerada da respiração indica que estou perante uma actividade física mais intensa, que desperta os meus sentidos e permite-me ao mesmo tempo praticar e treinar as minhas habilidades, aperfeiçoando-as.

Mas ainda estou a meio caminho de ter apenas esta face da peça pronta.

O próximo passo é então alisar e suavizar esta face toda, recorrendo a várias plainas e utilizando também umas peças de madeira para ir verificando o empenamento.

madeira
Plaina de acabamento
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Face da madeira terminada de aplainar e completamente lisa

E no fim, repetir o mesmo processo para todas as outras faces…

É um jogo de paciência, mas também de conhecimento da madeira que está a ser trabalhada e da ferramenta que estou a usar.

O bom de usar plainas manuais é que a fase de do acabamento incluí muito pouco tempo a lixar a peça, porque o trabalho foi todo feito com a utilização da plaina.

Ou seja, reduzo muito o pó que circula no ar e que pode entrar nos meus pulmões.

Todas estas ferramentas manuais têm que estar bem afinadas.

Não faz sentido utilizá-las se não as soubermos afiar, e se não estiverem sempre prontas a serem utilizadas no seu potencial máximo.

É um processo contínuo, que nunca termina, e há que saber quando se deve afiar. Para isso é preciso praticar, conhecer a ferramenta.

O ar puro que respiro, sem máscaras… o som da madeira a ser serrada indica-me quando estou prestes a terminar… a sensação de que não existe mais nada que impossibilite a execução do trabalho, a não ser a minha vontade.

A utilização de ferramentas manuais possibilita-me ouvir o ambiente que me rodeia, e ser mais saudável.

Ajuda também a estar num ambiente mais sustentável e a diminuir a pegada ecológica, já que não poluo o meio ambiente com o barulho das máquinas eléctricas. A única energia utilizada é a força humana.

 

madeira

Consigo sentir a madeira.

Com máquinas eléctricas era totalmente impossível sentir todas estas emoções.

As máquinas têm o seu lugar e deverão ser utilizadas com sabedoria, mas não deverão diminuir o prazer nem a nossa técnica de trabalhar com a madeira.

Qualquer pessoa, ao fim de pouco tempo de treino, consegue ficar apto a manobrar uma máquina eléctrica.

A utilização de ferramentas manuais também pode ser feita por qualquer pessoa, mas é necessário praticar sempre que possível.

A curva de aprendizagem poderá ser um pouco maior, mas isto porque faz-nos treinar todo o nosso corpo e treinar habilidades que não estamos habituados a utilizar.

Mas é isso que torna esta arte tão especial. Está ao alcance de todos, e faz-nos treinar muitas características que vamos usar ao longo da nossa vida.

Esta é a forma como eu trabalho a madeira, e é assim que abordo os outros aspectos da minha vida.

 

Obrigado pela tua presença

 

 

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