– “Então, como vai a vida?”
– “Mais ou menos, cá vamos andando”
– “Tem que ser”
Quando vou à frutaria, ouço muitas vezes as pessoas idosas a comentarem umas com as outras as suas maleitas, o como vai a vida, o cá vamos andando, o tem que ser, porque não há outra forma de viver.
Dão a entender que a vida é feita de sofrimento e que não existe outra forma de ser e estar, que só a sofrer é que vivemos.
Mas existe!
E sofrimento é diferente de sacrificio.
Por vezes os sacrifícios têm que ser feitos, não podemos fugir deles.
São problemas que existem, percalços que aparecem no nosso caminho, e que têm que ser superados.
A vida é maravilhosa de se viver.
As pessoas de outras gerações pensam de forma diferente.
Fruto da sociedade em que nasceram e cresceram, os seus pais, avós, bisavós, etc. tiveram sempre esta forma de ser e de estar, incutida pelos mais velhos.
E é isso também que nos tentam passar, porque é isso que sabem e viveram.
É todo um ciclo com efeito de bola de neve, que se não for quebrado, não nos deixa revelar todo o nosso potencial enquanto ser humano.
A felicidade conquista-se todos os dias.
O amor conquista-se todos os dias.
Quando sentimos que há algo que não está bem, significa está na altura de mudar.
Temos o dever de demonstrar aos nossos filhos que podemos ser felizes a viver a vida que sempre sonhámos ter.
Demonstrar e não mostrar.
Não basta apenas mostrar que outras pessoas conseguiram.
E nós?
Não teremos também essa capacidade de mudar a nossa vida?
Não teremos todos essa capacidade, adormecida para alguns, como se de um vulcão se tratasse à espera de entrar em erupção?
A vida é feita para ser vivida com alegria.
Por isso, façam o favor de serem felizes e alcançarem os vossos sonhos.
É sempre bom relembrar o nosso passado, quais são as nossas raízes. Qualquer que tenha sido o caminho que percorremos, bom ou mau, mas que nos permitiu chegar onde estamos neste preciso momento. Uma espécie de regresso ao futuro, que nos permite perceber que acções fizemos no passado que possam ter impactado a nossa situação actual.
Não é fruto do acaso, nem coincidência. Não é sorte, nem azar.
É sim, fruto do nosso querer, da nossa vontade de chegar a algum lado.
O nosso subconsciente é muito poderoso, no sentido em que o podemos moldar à realidade que desejamos que aconteça. Exige prática, dedicação, empenho, reforço constante dos nossos pensamentos.
Muitos de nós já o fazemos de forma inconsciente, mas fazê-lo de uma forma consciente permite-nos alcançar os patamares que desejamos, e não os que a vida nos impõe, como se fosse um acaso.
Mal sabia eu que, há alguns anos atrás, iria estar nesta posição, a ajudar a espalhar o nome Montessori através da minha arte.
Que iria ser este o meu futuro.
Tudo começou com a minha vontade de querer fazer algo com as minhas mãos, trabalhos manuais.
Sempre gostei de o fazer, mas durante vários anos coloquei essa sensação de lado. São fases da vida que nos fazem optar por caminhos que nem sempre são os desejados.
Mas a vontade de mudar foi maior, e recomecei a ganhar o gosto pelos trabalhos manuais através da arte de trabalhar a madeira. Ao embrenhar-me cada vez mais, fui ganhando um gosto e respeito cada vez maior por esta arte. Sou também um curioso e autodidata por natureza, o que me permite ir sempre à procura de respostas fora do meu círculo habitual de conhecimento. Desta forma, permito-me expandir a minha consciência e sair da minha zona de conforto.
Só desta forma conseguimos evoluir.
Se existe um problema, existe uma solução. De que vale a pena focarmo-nos no problema, e não na solução? A solução está à nossa volta, mas para que possamos descobrir, é preciso retirar a atenção do problema. É bom termos consciência dele, mas não mais do que isso. Depois é preciso encontrar a solução, porque ela existe.
E só assim adquirimos novos conhecimentos, que muitas vezes não sabemos onde nos levam. E se calhar nem precisamos de saber no imediato, mas iremos perceber melhor, um dia.
Nas primeiras vezes que enveredamos por uma nova arte, os primeiros trabalhos são sempre um pouco “toscos”. Por mais que queiramos fazer algo bem logo nas primeiras vezes, é complicado, porque o nosso cérebro e o nosso corpo ainda não estão habituados nem preparados para esses trabalhos. É preciso treiná-los, para desempenharem bem as tarefas a que nos propomos fazer.
Os nossos músculos têm memória, e também aprendem a fazer as coisas de uma determinada forma. É muito importante estarmos concentrados e ter consciência do que estamos a fazer, para que possamos educar correctamente o nosso corpo. O que pode ser aprendido a fazer de uma forma correcta, também pode ser aprendido a fazer de uma forma incorrecta.
A memória muscular é muito importante nos trabalhos manuais, e é algo que não pode ser descurado.
Estudos dizem que são precisas cerca de 10.000 horas (!) de trabalho para ficarmos mestres num determinado trabalho, numa determinada arte.
Ainda me falta um longo caminho para percorrer (e não sei se alguma vez irei lá chegar), e muito sinceramente, não é isso que me move. A principal motivação é sentir-me bem a fazer algo que gosto, e que também vai ser útil para as outras pessoas. Fazer algo que deixe a minha mente sã e o meu corpo cansado, um cansaço “bom”. O resto vem por acréscimo.
Os meus primeiros trabalhos foram bastante “toscos”, sem dúvida, e sem qualquer tipo de acabamento. Muito “crús”.
Mas aprendi muito.
Percebi precisamente como não queria fazer, e por que caminho não quereria enveredar. Ao ver os resultados finais, percebi onde tinha que melhorar. O “como” vem com a experiência.
Ajudou-me imenso.
E, nesta área, é muitas vezes necessário fazermos nós próprios um modelo (ou até uma ferramenta) que nos ajude a trabalhar melhor: o chamado gabarito ou bitola. Pode até ser algo feito à medida, usado especialmente só para aquela ocasião específica.
Aprendi sobre as várias junções que existem para unir as peças de madeira.
Quando se fala em marcenaria, provavelmente a primeira imagem que nos aparece são peças de madeira unidas com pregos, e que o marceneiro só utiliza pregos.
Nada podia estar mais longe da verdade.
Perceber qual a melhor junção para uma determinada situação e saber unir peças de madeira é quase uma arte. A união terá que ser tão perfeita quanto possível, para que não cause problemas estruturais ao objecto em si. E também para que fique esteticamente agradável de se ver.
Durante o meu percurso fiz vários objectos, e aventurei-me inclusive em fazer cadeiras e mesas, todas em madeira maciça, e feitas à mão.
Já referi que aprendi muito neste processo…?
A concepção da cadeira foi muito importante, porque permitiu-me expandir os meus conhecimentos e sair da minha zona de conforto. Foi o meu último projecto na primeira vez que tive um contacto mais directo e dedicado a trabalhar a madeira. Digamos que foi uma espécie de “teste”, para ver quem conseguiria fazê-la num curto espaço de tempo, e com pouco tempo de formação. Consegui terminar, apesar de ficar com muitos erros e imperfeições. Mas aprendi muito.
Sabias que existem pessoas exclusivamente dedicadas a esta arte de fazer cadeiras, que se chamam os cadeireiros?
E compreendo o porquê, porque existem muitos pormenores a ter em atenção.
Numa fase mais posterior, e já com mais alguma experiência nesta área, fiz uma mesa de centro de sala, também em madeira maciça, que é neste momento a que o meu filho usa para os seus “trabalhos”. É a mesa onde ele explora as artes gráficas e desenha quadros lindíssimos, que só ele sabe fazer.
Toda feita apenas com ferramentas manuais.
Também aprendi muito com este projecto, e como aplicar um acabamento que permitisse proteger a madeira, bem como realçar os veios desta matéria-prima natural.
Por vezes é necessário parar um pouco para repensarmos quais os nossos objectivos, e validarmos se estamos no caminho certo. É muito fácil desviarmo-nos do percurso traçado. Mais fácil é quando não vemos os resultados imediatos. Na sociedade em que vivemos, de consumismo rápido e descartável, em que temos o mundo na ponta dos dedos, queremos tudo para ontem e já não sabemos o que é esperar. O dinheiro de plástico é imperador soberano, as novas tecnologias estão disponíveis para quem quiser, e já não sabemos o que é estar desligado. Mas por vezes somos obrigados a parar e olhar para o caminho que estamos a fazer. São paragens “obrigatórias”, como se de um carro de corrida se tratasse em que tem parar para mudar os pneus. São paragens que nos permitem perceber qual o próximo passo. Normalmente é necessário desbloquear algo para que possamos avançar. O caminho faz-se… caminhando.
Depois de um longo tempo parado sem escrever, estou finalmente a conseguir voltar, e assim espero continuar.
Ainda não sei qual será a frequência com que irei escrever, mas espero manter o ritmo.
O que importa é começar. É sempre o passo mais importante, e por vezes, o mais complicado.
Tudo tem um motivo de acontecer, e surgiu a necessidade de dedicar a minha total atenção ao meu novo bebé tecnológico.
A semana passada foi o início de um marco importante. Finalmente consegui reunir todos os esforços para que conseguisse abrir as portas da minha casa tecnológica ao público: o site do Papai Tó.
É algo que já foi pensado (e começou a ser implementado) há cerca de um ano atrás.
Um ano!
Como o tempo passa!
As ideias surgem e queremos concretizá-las logo no imediato, mas surgem sempre alterações aos nossos planos que nos fazem mudar o rumo dos acontecimentos. Mas o importante é não perdermos o nosso foco e sabermos quais são os nossos objectivos.
Muitos conhecimentos foram adquiridos, e ainda falta muito mais para fazer. Poderia atrasar um pouco mais o seu lançamento, mas se fosse esperar até estar mesmo completo… então seria um adiamento infinito.
Não existe a perfeição, e busca pela perfeição pode tornar-se uma obsessão, de tal forma que pode influenciar a nossa forma de viver.
O essencial está feito e foi lançado com as mínimas condições possíveis.
Agora é ir adicionando o que falta, até ficar mais funcional e apresentável.
Se existem falhas? Claro que sim! Mas que serão corrigidas, e conto com o teu apoio, se detectares alguma. Há sempre algum pormenor a alterar, mas que não nos pode impedir de avançar.
Por exemplo, com certeza que já tentaste aceder à loja e reparaste que ainda não está operacional. Gostaria muito que já estivesse concluída, mas faltam muitos pormenores por definir, e ainda não posso abri-la. Será oficialmente aberta quando as condições estiverem reunidas, e espero não demorar muito tempo até o fazer.
Prevejo que muitas coisas boas aí virão, mas terão que ser assentes numa base sólida, consistente. Só assim perduram e só assim criam raízes para as gerações futuras.
O caminho faz-se… caminhando.
Claro que com isto tudo, existem outros projectos que ficam parados, outros tantos que abrandam o passo e entram no ritmo do caracol. Mas com certeza que já conheces a história da lebre e da tartaruga… apesar da tartaruga ter um passo mais lento, não significa que desista do objectivo, ou que se distraia facilmente. Foco, determinação, persistência e ritmo consistente são as palavras de ordem.
Quem “sofre” mais com estes abrandamentos é o meu filho L, o meu cliente mais fiel.
“Pede-me” constantemente que lhe proporcione melhores condições para que ele possa usufruir o melhor possível dos períodos sensíveis pelos quais está a atravessar.
Ou seja, demonstra-me, por gestos e palavras.
Gosto muito de o observar e perceber quais as suas necessidades, e acho que até já o faço de uma forma inconsciente. Por vezes, basta um pequeno gesto dele para perceber o que lhe faz falta naquele momento, o que o pode ajudar para facilitar a sua vida.
No fundo, a aquisição e a consolidação de novas competências que o seu crescimento assim lho exige.
Ele tem uma paciência do tamanho do mundo, e quando menos espera ”aparece” algo feito por mim que ele tanto precisava.
Espero poder retomar brevemente ao ofício que tanto gosto.
O Papai Tó veio para ficar e vai deixar a sua marca, ao demonstrar que os portugueses também sabem fazer materiais pedagógicos (e não só) com qualidade.
Com matéria-prima proveniente de florestação sustentável e com acabamentos certificados que não prejudicam o meio-ambiente, e que por isso são seguros para os nossos bebés e crianças mexerem sem perigo para a sua saúde.
Espero sinceramente corresponder às expectativas, porque eles merecem o melhor, e, se possível, que seja português.
É com muita satisfação e alegria que vejo o movimento Montessori a começar a espalhar-se e a consolidar-se cada vez mais pelo nosso país, e este é o meu pequeno contributo para que os nossos pequenos mestres tenham a aprendizagem que merecem.
Quais as tuas expectativas em relação à integração de Montessori em Portugal?
O que estás a fazer para ajudar que este movimento floresça?
Um homem não é desprovido de sentimentos, embora assim o pareça. Desde os tempos primitivos que o principal papel do homem é garantir a sua sobrevivência e dos que lhe são próximos.
Enquanto a mulher ficava a tomar conta da casa e dos filhos, o homem ia à procura de comida, e tinha o papel de proteger a casa e a família.
Talvez por causa disso tenha assumido uma postura mais rígida, inflexível, e tenha vestido uma carapaça que não deixe transparecer as emoções. Possivelmente também para não preocupar a sua mulher e as crias.
Criámos uma carapaça para não deixarmos ninguém invadir o nosso espaço.
Para dar a entender à sociedade e a todos os que nos rodeiam que somos o verdadeiro macho alfa, aquele que não tem medo de nada e controla tudo e todos.
Mas não é bem assim… os homens também precisam de mimos, colinho e cafunés. Também temos dias menos bons em que precisamos desabafar e sentirmo-nos aconchegados. Precisamos que alguém nos diga que vai correr tudo bem, mesmo que não seja inteiramente verdade.
Precisamos exteriorizar as nossas emoções.
Os homens e não só.
É perigoso esconder as emoções, porque um dia mais tarde podemo-nos vir a ressentir disso mesmo. O nosso corpo vai acumulando as energias que não são libertadas de alguma forma, e depois começam a surgir sintomas estranhos, pequenas doenças que não sabemos de onde apareceram, tensões que o nosso corpo vai adquirindo.
E não nos damos conta disso mesmo, porque vai fazendo parte do nosso dia-a-dia, e achamos que é completamente normal. Aliás, já nem sabemos o que é estar bem.
E que exemplo nós estamos a dar aos nossos filhos, que não vêm o pai chorar?
Uma pessoa forte é aquela que reconhece e não esconde as suas fraquezas.
Quantas pessoas são consideradas líderes por quem as rodeiam, precisamente porque mostram o seu lado humano?
Para sermos adultos emocionalmente fortes, é necessário começarmos desde muito novos a reconhecer as nossas emoções.
As crianças precisam saber lidar com elas. E nós somos o melhor exemplo que elas podem ter.
Temos o dever de explicar-lhes o que estão a sentir num determinado momento. Identificar e perceber que sensações as emoções nos transmitem, e como nos fazem sentir.
Não deve ser fácil, enquanto crianças, conseguirmos lidar com muitos sentimentos e emoções que nos invadem pela primeira vez, além da explosão de sons, cores e texturas que inunda os pequenos exploradores.
Mas só assim nos permitimos crescer emocionalmente.
Lembro-me de um filme em desenhos animados que vi antes do L nascer (quando tínhamos todo o tempo do mundo para ir ao cinema…), que falava precisamente das emoções, o Inside Out.
Este filme explica bem o porquê de termos a necessidade de expressar o que sentimos, além de percebermos que é necessário deixarmos fluir todas as emoções para que as possamos sentir de igual forma. Temos que saber conviver com todas elas.
Cada vez mais os homens estão a deixar de ser aquelas pessoas frias e indiferentes que a sociedade “forçou” a moldar.
Por fora podemos parecer seres insensíveis e inflexíveis, mas por dentro somos todos feitos de amor.
Os homens também choram.
Choram quando estão acompanhados.
Choram quando estão sozinhos.
Choram quando presenciam o milagre do nascimento do filho.
Choram quando morre um avô, uma avó.
Choram quando saem de casa dos pais.
Choram sem razão aparente, apenas porque lhes apetece exteriorizar sentimentos que não devem ficar guardados.
Quando foi a última vez que expressaste verdadeiramente as tuas emoções?
Hoje em dia, veem-se muito poucos jovens a fazerem trabalhos manuais, artesanato.
Parece que a única razão válida que encontram para mexer os dedos é a usar as novas tecnologias (computador, consola de jogos, telemóvel, etc.) e pouco mais.
Não conhecem outra realidade, e é de lamentar.
É a realidade em que nasceram. Os pais passam o dia a olhar para um ecrã, dependentes e sempre ocupados.
Cá em casa, acontece algo parecido. Não vemos televisão, e embora tenhamos muito cuidado em não usar o telemóvel à frente do L, claro que invariavelmente isso acontece. Mas acontece muito mais quando fazemos ou atendemos chamadas, do que a navegar na internet.
E, claro, somos imitados. Como?
Bem, nós temos uma capa de telemóvel que não usamos, e demo-la. Ele adora e gosta de andar com aquilo para todo o lado. E volta e meia, lá anda ele com a capa encostada ao ouvido a fingir que liga para os avós…
Cada vez mais começam a surgir novos casos de pessoas muito novas que sofrem de lesões no corpo devido a más posturas. Hérnias discais, tendinites… parecem ser coisas normais nos jovens actuais.
Parece incrível como se pode chegar a uma idade tão jovem e com o corpo a envelhecer.
Descobri recentemente que existe a profissão de jogador profissional de jogos de computador, em que passam o dia inteiro sentados, em frente a um ecrã, a jogarem. E são pagos para isso.
São profissões que, tal como os atletas profissionais, têm uma carreira muito curta, e são obrigados a retirarem-se numa idade muito nova (antes dos 40 anos):
Os atletas profissionais, porque o corpo (no seu todo) foi submetido a um enorme desgaste físico durante muitos anos
Os outros tipos de jogadores profissionais, porque as suas mãos foram submetidas a um enorme desgaste a fazer o mesmo tipo de movimentos durante longos anos.
Antigamente só quando se chegava a uma idade mais avançada, é que começavam a surgir estes problemas. Mas viam-se, principalmente, nas pessoas que trabalhavam no campo, devido às más posturas originadas pelas colheitas que tinham que fazer.
Tudo tem que ter um equilíbrio.
Tenho conhecimento de pessoas jovens que já têm problemas de tendinite nas mãos e hérnias discais, precisamente porque passam o dia inteiro sentados em frente ao computador. Já para não falar do andarem com um ombro mais elevado que o outro, resultado do longo tempo passado com o telemóvel entre o ombro e o ouvido. Uma espécie de kit mãos-livres prejudicial à saúde.
É o seu trabalho, mas o que é mais valioso?
O trabalho, ou a saúde?
Trabalhar para ganhar dinheiro, para pagar as tuas despesas de saúde que tens devido ao trabalho que fazes.
Reparaste no ciclo vicioso em que muitas pessoas estão, sem se darem conta?
Recentemente, li um artigo publicado na internet, que refere que em Inglaterra, os estudantes de cirurgia estão a ter problemas de destreza manual para coser os seus pacientes.
Eu próprio passei por essa fase dos jogos de computador, quando começaram a aparecer há mais de 20 anos atrás. Estar dias inteiros frente a um computador, tudo era novidade na altura.
Passei por isso tudo.
Mas não foi por causa disso que fiquei viciado. A vida obrigou-me a seguir o meu caminho e a procurar soluções para os problemas que me iam aparecendo.
Como em tudo, tem que haver bom senso.
Começa em casa, por exemplo, com os pais a incentivarem os filhos a fazerem mais trabalhos manuais.
A fazer pequenas reparações, por exemplo. Ou a frequentar workshops de marcenaria, ou outro tipo de artesanato.
A confiança e a auto-estima eleva-se quando vemos algo feito pelas nossas próprias mãos. Ficamos contentes quando criamos.
Tal como é importante desenvolver a nossa mente ao estudarmos o que nos interessa, também é importante estarmos envolvidos noutras áreas, tais como a música, artes dramáticas, pintura, etc.
Desenvolvermo-nos como um todo, de modo a que tenhamos uma vida rica em experiências nas mais variadas formas.
Sermos um ser completo.
Antigamente, na escola existia uma disciplina que se chamava “Trabalhos Manuais”. Lembro-me perfeitamente, porque aprendi várias artes manuais, entre as quais fazer um livro (desde colocar a capa até coser as folhas com agulha e linha) e um pequeno assador de chouriços em barro.
Será que ainda existe?
São memórias que perduram porque aprendemos muito mais a fazer do que a ler ou a ouvir.
Criar memórias, recordações. É o melhor que podemos ter.
E isso só acontece se envolvermos os nossos filhos em actividades manuais.
Muitos dirão que não gostam, ou que é coisa que já não se faz. Mas secalhar nunca experimentaram, e não sabem se gostam. Afinal, não sabemos o que não sabemos.
Tive a sorte de ter um avô serralheiro que tinha uma pequena garagem com várias ferramentas manuais, e onde ele fazia de tudo um pouco. Até fez uma mesa de ping-pong em tamanho real, para eu e o meu irmão jogarmos! Confesso que gostaria de ter aprendido mais coisas com ele, mas o bichinho ficou cá.
Gosto de arranjar coisas, de inventar. De encontrar soluções.
O ser humano não foi feito para fazer actividades repetitivas durante muito tempo. A monotonia instala-se e a criatividade começa-se a desvanecer.
Para isso existem os robots.
O ser humano é um criador por natureza, um inventor.
Sim, levanta-te e luta! Quando a vida te prega rasteiras para as quais não estavas à espera, não penses que ficar no chão é opção.
“Não importa quantas vezes cais, mas sim quantas vezes te levantas”, já diz a famosa frase.
E, de facto, torna-se verdadeira a partir do momento em que nos levantamos e percebemos que temos muito mais a ganhar do que ficar no chão.
Se ficarmos no chão, não iremos perceber o nosso real valor. Ficaremos sempre a pensar no que poderia acontecer se nos levantássemos mais uma vez. Muitas das vezes apetece-nos ficar no chão, parar. É o nosso ego a dizer-nos basta. Basta de humilhações. Basta de tentativas falhadas. É mais apetecível ficar numa posição conhecida e confortável, do que enfrentar o desconhecido.
Mas a cada tentativa falhada, ficamos um pouco mais perto da nossa visão. Sabemos melhor qual o caminho que devemos percorrer. A próxima tentativa correrá ainda melhor. E vai chegar o dia em que acumulaste tanta experiência nas tentativas falhadas, que já sabes fazer tudo para que as coisas resultem bem.
Podes perder uma batalha, mas chega sempre a hora de bater com as mãos no chão e continuar a perseguir o teu sonho.
A tua luta é pessoal e só tu a podes combater.
A vida prega-nos rasteiras, é verdade. Mas muitas vezes existem para que encontremos a força necessária para continuarmos o nosso caminho. Erguemos a cabeça e ganhamos mais confiança, mais auto-estima. O nosso horizonte altera-se e a nossa zona de conforto expande-se. O que tínhamos como garantido, deixou de o ser.
Encontramos muitas pessoas que andam perdidas. Exteriormente parecem que estão bem, mas no seu interior não são pessoas felizes.
Nunca tentaram ser felizes?
Tentaram uma vez, falharam, e não voltaram a tentar?
Sabem que podem dar mais de si, tornarem-se uma versão melhor de si mesmas, mas isso implica uma mudança. Mudança do estilo de vida. Mudança de hábitos, rotinas.
O único factor constante é a própria mudança.
O ser humano é extraordinário, e somos muito mais resilientes do que imaginamos. É nas adversidades que percebes o quanto vales.
Por isso é muito importante teres um caminho definido, um plano de acção. Se não der por um lado, então tentas pelo outro. E se mesmo assim não conseguires vislumbrar o caminho, limita-te a andar. O caminho aparecerá à medida que for feito. À medida que fores adquirindo novos conhecimentos, conhecendo novas pessoas.
As rodas do universo começam a funcionar a partir do momento em que decides caminhar.
Pode parecer um pouco estranho, mas funciona. As coisas acontecem como que por magia, e o que parecia impossível começa a tornar-se uma possibilidade remota.
Faz-me lembrar o filme “Indiana Jones e a Última Cruzada”, onde o protagonista não vê a ponte invisível que está mesmo à sua frente. Tem que acreditar e dar o primeiro passo. E a magia acontece.
Sempre fui uma pessoa curiosa e gosto de perceber como as coisas funcionam. Questionar é importante para mim, permite-me raciocinar melhor e tomar decisões baseadas nas minhas conclusões. Permite-me pensar “fora da caixa”.
Hoje em dia existem coisas que já não questiono nem tento perceber o porquê de acontecerem.
Simplesmente sei que acontecem, e há coisas que não se explicam.
Também é importante aceitar as informações que as outras pessoas dão, sem fazer julgamentos. Mas é ainda mais importante questionar. É uma ferramenta importante que nos permite evoluir. Se uma multidão segue para o mesmo caminho, por que razão haverei eu de seguir esse mesmo caminho? Existe alguma regra? A sociedade assim o exige, embora de uma forma inconsciente? Ao ser humano foi dada a capacidade de pensar por si próprio, mas cada vez mais a sociedade faz-nos esquecer disso mesmo. Somos “empurrados” a seguir o mesmo caminho que a multidão segue, sem questionar.
O caminho contrário poderá parecer um pouco ortodoxo, fora do contexto do que é considerado “normal”. Mas o que é normal para uns, pode não ser para outros.
Afinal, cada pessoa tem o seu caminho para seguir.
Faz-nos sentir bem sabermos que estamos a percorrer o nosso caminho, mesmo caminhando sozinhos. Claro que é ainda melhor ter também outras pessoas a acreditarem em nós, faz-nos sentir que não estamos sozinhos e que temos um ponto de apoio, se for necessário. São essas pessoas que, embora parecendo que não estão lá, aparecem sempre na altura certa para nos dar a orientação correcta, para nos estimular. Mas é apenas um bónus, porque o importante é sentires que estás a seguir o teu caminho, mesmo sem estrada à vista.
Faz-me lembrar um outro filme, “The Matrix”, em que o Neo sabe que alguma coisa não está bem na sua vida e só começa realmente a acreditar em si próprio quando aparece outra pessoa, o Morpheus, que acredita mais nele do que ele próprio.
A propósito, este é um filme cheio de mensagens subliminares, já pensaste bem?
Sabias também que é muito interessante ter um caderno, uma espécie de diário, onde anotas os teus planos, as tuas conquistas, o que esperas da vida para os próximos anos?
Desta forma, no final de cada ano, podes reler o que escreveste e perceber o quanto mudaste. O quanto mudaram os teus objectivos para chegares à tua visão.
A evolução que houve pode ser assombrosa, mas só te apercebes realmente disso se tomares notas.
Acredito que viemos a este mundo para evoluirmos e ajudarmos também os que se aproximam de nós a evoluírem. Caminhamos para um plano vibratório mais elevado, e isso só acontece se evoluirmos todos em conjunto.
E para ajudarmos o próximo, temos que estar bem connosco. Temos que nos sentir vivos. E isso só acontece se não desistirmos dos nossos sonhos.
Não gostamos de pensar na morte, porque achamos que ainda está muito longe, mas o tempo passa muito rápido.
Mais rápido do que gostaríamos.
E quando isso acontecer, que legado gostarias de deixar às novas gerações?
O que gostarias que estivesse escrito na tua lápide do cemitério?