– “Então, como vai a vida?”
– “Mais ou menos, cá vamos andando”
– “Tem que ser”
Quando vou à frutaria, ouço muitas vezes as pessoas idosas a comentarem umas com as outras as suas maleitas, o como vai a vida, o cá vamos andando, o tem que ser, porque não há outra forma de viver.
Dão a entender que a vida é feita de sofrimento e que não existe outra forma de ser e estar, que só a sofrer é que vivemos.
Mas existe!
E sofrimento é diferente de sacrificio.
Por vezes os sacrifícios têm que ser feitos, não podemos fugir deles.
São problemas que existem, percalços que aparecem no nosso caminho, e que têm que ser superados.
A vida é maravilhosa de se viver.
As pessoas de outras gerações pensam de forma diferente.
Fruto da sociedade em que nasceram e cresceram, os seus pais, avós, bisavós, etc. tiveram sempre esta forma de ser e de estar, incutida pelos mais velhos.
E é isso também que nos tentam passar, porque é isso que sabem e viveram.
É todo um ciclo com efeito de bola de neve, que se não for quebrado, não nos deixa revelar todo o nosso potencial enquanto ser humano.
A felicidade conquista-se todos os dias.
O amor conquista-se todos os dias.
Quando sentimos que há algo que não está bem, significa está na altura de mudar.
Temos o dever de demonstrar aos nossos filhos que podemos ser felizes a viver a vida que sempre sonhámos ter.
Demonstrar e não mostrar.
Não basta apenas mostrar que outras pessoas conseguiram.
E nós?
Não teremos também essa capacidade de mudar a nossa vida?
Não teremos todos essa capacidade, adormecida para alguns, como se de um vulcão se tratasse à espera de entrar em erupção?
A vida é feita para ser vivida com alegria.
Por isso, façam o favor de serem felizes e alcançarem os vossos sonhos.
Depois de nascer, qualquer bebé necessita de sentir que o mundo ao qual acabou de chegar é seguro. Nos primeiros tempos de vida, não necessita mais do que comida, o amor e a confiança dos seus cuidadores.
É desta forma que se vai gerar a autoconfiança tão necessária para enfrentar os desafios a que se propôs, ser quem tem que ser e fazer o que mais gosta.
Crianças emocionalmente saudáveis tornam-se adultos seguros e confiantes.
O L não é excepção, e está a passar por uma fase em que necessita de sentir que tem o amor dos pais e que tem um porto de abrigo à sua espera.
A mudança de escolinha implicou largar um passado de caras conhecidas, para começar tudo de novo e voltar a sentir a confiança de novas pessoas e fazer novos amigos.
Devido a uma formação muito importante que a minha menina foi fazer, confesso que nas últimas semanas senti-me um pouco como um papá Uber, a levá-los cada um para a sua escolinha. Mas quem corre por gosta não se cansa, e é um privilégio poder assistir ao crescimento interior de cada um deles, apoiando-os no que for preciso.
Não foi fácil, claro está. Implica abdicar de muita coisa, mas é algo que se assume fazer quando se está empenhado em ajudar.
A adaptação do L à nova escolinha durou pouco mais de uma semana.
Foi o tempo necessário para o meu bebé habituar-se a novas rotinas, novas pessoas, novos lugares.
Muito tempo?
Pouco tempo?
Confesso que pensei que demorasse menos tempo, mas demorou o tempo que teve que ser. Nem mais nem menos.
Cada criança tem a sua própria personalidade e os seus medos, e por isso não há uma fórmula mágica que funcione para todos.
Paciência e confiar.
Confiar que estamos a fazer o melhor e que é uma nova etapa que os nossos filhos vão ultrapassar. O crescimento é isso mesmo, sair da nossa zona de conforto e enfrentar os nossos medos. Só assim evoluímos e adquirimos novas competências, novos conhecimentos.
Durante este período fiquei com ele o tempo que foi preciso para que ele se começasse a sentir em casa e a ganhar confiança com as novas pessoas.
A última coisa que não queria que acontecesse era que ele se sentisse abandonado, sem estar adaptado. Com isso vem frustração, raiva, e choro. Muito choro. Parte-me o coração ver outros meninos a chorarem durante vários dias a chamarem pelos pais…
Com este período de adaptação evitei ao máximo que isso acontecesse, e sinto-me bem por saber que estou a dar o meu melhor para que seja o mais fluída possível.
Confesso que sinto-me um privilegiado por poder dar o meu tempo para que ele se sentisse bem no novo espaço.
O bem mais precioso que podemos dar é o nosso tempo.
O L é um menino que entende tudo o que nós dizemos, e aos poucos fomos falando com ele sobre o novo espaço. Foi conhecendo as novas pessoas e fazendo novas amizades.
Mas não é fácil.
Vir de um período de férias com rotinas feitas e entrar numa nova escolinha não é fácil.
Quantos de nós, adultos, ficam esmorecidos no último dia de férias, sabendo que vamos voltar ao trabalho (nem sempre desejado)? Pior ainda quando mudamos de local de trabalho, a pressão aumenta. Agora imaginem isso tudo junto, com medos e inseguranças à mistura, multiplicado por 100 na mente de um bebé.
Desde sempre que o L sabe que é amado e que os pais estarão ao pé dele para o que for preciso.
Sabe que vamos sempre voltar para buscá-lo.
No meio deste regresso à rotina, os educadores e auxiliares têm um papel fundamental ao garantir que a transição seja o menos traumática possível.
A todos vós, educadores e auxiliares, o meu profundo agradecimento por todo o apoio que dão aos bebés e crianças que estão sob a vossa alçada.
Não deve ser fácil garantir que todos fiquem bem. Por vezes dois braços não chegam para acudir o choro de muitos.
É algo que só faz quem realmente gosta, disso tenho a certeza.
Confiar.
Confiar que os nossos bebés ficam bem.
É um crescimento, não só para eles, mas também para nós, pais.
Fugindo um pouco aos assuntos normais do blog, hoje venho falar de um tema que me é muito relevante: a amamentação.
E o que tem um homem a dizer sobre isto…?
Ontem (dia 7 de Agosto) foi o último dia da Semana Mundial da Amamentação.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os bebés devem ser amamentados em exclusivo até aos primeiros 6 meses de vida.
E que se deve manter (pelo menos) até aos dois anos, período durante o qual o bebé recebe alimentação complementar.
Como casal, optámos por cumprir estas recomendações, e o L amamentar até deixar de fazer sentido para ele.
Digo como casal, porque, apesar de a mãe ser a mais sacrificada neste sentido, o pai tem um papel preponderante ao garantir que as necessidades da mãe e do bebé são garantidas.
Tem que haver uma boa sintonia entre o casal, cooperação e entendimento para que seja mais fácil alcançarmos o bem-comum, que é o de proporcionar o melhor para o nosso filho.
Se optássemos por lhe dar biberão, seria mais fácil dividir entre nós a tarefa de alimentá-lo. Especialmente durante a noite.
Para “aliviar” um pouco este processo, optámos por acoplar um berço à nossa cama (do lado da minha mulher), fazendo algumas alterações e retirando a grade lateral.
Desta forma, sempre que o L quisesse mamar, não havia necessidade de ninguém se levantar, reduzindo também o seu stress causado pelo choro.
Os bebés sabem muito bem o que querem, e o L não é excepção.
Abençoados bebés que têm essa sorte, e que têm pais (sobretudo a mãe) predispostos a garantir que essa premissa é cumprida.
Mas não é fácil, sobretudo para mãe.
A minha mulher é uma heroína, e sabes porquê?
O L foi para o berçário perto dos 6 meses, simplesmente porque a licença de maternidade chegou ao fim e não tínhamos com quem o deixar (esperemos que a licença de maternidade e parentalidade seja alargada…).
O berçário onde o deixámos fica a cerca de 1km do trabalho da minha mulher.
Fomos felizes neste aspecto, o que lhe permitiu usufruir do horário reduzido para amamentar sempre que o L precisasse.
Apesar de ser um troço pequeno entre a casa e o trabalho, o carro ficava estacionado na zona do berçário por ser mais fácil estacionar do que nas imediações do seu trabalho.
Parece estranho, mas causava menos transtorno ir a pé do que ir de carro (por causa do trânsito e não só).
Desta forma, devido às viagens a pé entre o berçário e o trabalho, a minha super-mulher fez 6 km diários, todas as semanas, durante 3 meses, só para amamentar o nosso filho.
No final da semana tinha feito 30km!
Quer fizesse chuva ou sol, lá estava ela.
E não só é desgastante o facto de andar tanto a pé durante uma semana, como não nos podemos esquecer que o fez para amamentar, o que por si só já é desgastante.
Escusado será dizer que recuperou rapidamente a forma que tinha antes de engravidar!
Na brincadeira, ainda falámos que devíamos ter comprar uma trotinete!
No meio disto tudo, cabe ao pai assegurar que todo o processo decorre dentro da maior naturalidade possível.
Como? Retirando carga desnecessária à mãe, enquanto ela abdica de tudo o resto para realizar um puro acto de amor.
O pai também amamenta.
Não directamente, por motivos óbvios.
Mas ajudando de outra forma, estando ao lado da mãe nos momentos bons e nos momentos menos bons.
Sofrendo com ela se o bebé demora muito tempo a mamar, ou rejubilando de alegria se demora 10 minutos.
Dando-lhe o comer como se fosse um bebé, enquanto o verdadeiro bebé mama.
Como é possível não tratar das tarefas domésticos, enquanto um ser humano está a amamentar um bebé?
A vida é muito mais fácil quando ambos tomam decisões em conjunto e caminham na mesma direcção, embora com projectos e visões diferentes, mas complementares.
Estes momentos a dois entre a mãe e o filho são preciosos e únicos, mas eu e o meu bebé também temos os nossos momentos a dois.
Sim, porque o pai também os tem, e também precisa deles para criar um vínculo afectivo com o seu bebé.
As vezes em que ele só queria o meu colo para se reconfortar de um choro compulsivo, ou as vezes em que adormeceu agarrado ao meu dedo, são alguns dos muitos momentos que não esquecerei.
O meu profundo agradecimento a todas as super-mulheres que amamentam os seus filhos, e respectivos super-homens que asseguram as suas necessidades e os seus bem-estares.
Para quem não conhece, e muito resumidamente, Maria Montessori nasceu em 1870, e foi a primeira médica italiana. Como se pode imaginar, nessa época as mulheres não tinham os direitos que hoje têm.
Sofriam de um estatuto inferior ao dos homens.
Era sempre acompanhada pelo seu pai às aulas na universidade porque não era bem visto uma mulher andar sozinha na rua. Nas aulas práticas, em que era necessário o professor demonstrar algo numa mesa, ela ficava sempre atrás dos homens, raramente conseguindo ver alguma coisa. Nas aulas teóricas, o seu lugar era sempre na última fila.
Mas isso não a desmoralizou, e concluiu o curso com distinção.
Ofereceram-lhe depois trabalhos que ninguém queria fazer (ou pelos quais não haviam interesse), como por exemplo visitar as alas psiquiátricas de asilos. Reparou então que as crianças que ali estavam não tinham as mínimas condições humanas para viverem dignamente. Eram crianças com necessidades especiais e desfavorecidas, que viviam em condições menos boas. Eram consideradas mentalmente atrasadas porque não sabiam ler nem escrever.
Maria Montessori interessou-se por estas crianças, observou-as e estudou-as, proporcionando-lhe condições (fundou o primeiro espaço para estes alunos, a Casa dei Bambini) para que pudessem desenvolver as suas capacidades motoras, e não só.
Em conjunto com os artesãos e marceneiros da época, desenvolveu materiais de aprendizagem específicos que foram utilizados pelas crianças, para desenvolverem as suas competências.
Em pouco tempo, estas crianças aprenderam a ler e escrever, ficando aptas a fazerem os exames nacionais da época. Não só os fizeram, como passaram com mérito!
Tornou-se assim uma importante pedagoga, ao desenvolver um método de ensino que respeita a individualidade de cada criança.
Maria Montessori dedicou-se a esta causa até à sua morte, criando inúmeras escolas em diversos países, para continuarem o seu legado.
Este foi o início do método pedagógico de ensino Montessori, que ainda hoje perdura no mundo inteiro e que está em crescendo no nosso país.
É muito gratificante poder acompanhar as primeiras conquistas do L desde o seu nascimento.
Antes de ele nascer, já estávamos relativamente familiarizados com o método pedagógico de Maria Montessori. Estabelecemos que iríamos seguir o melhor que conseguíssemos os princípios aí definidos. Mas seguindo sempre a nossa intuição, o desenvolvimento e as necessidades do nosso bebé.
Desde muito cedo que o L demonstrou resiliência em querer fazer as coisas bem feitas, não desistindo enquanto não as conseguia fazer. Um desses momentos é o momento em que ele tenta encaixar o cilindro de pinça (feito por mim) no orifício.
Ficou cerca de dois minutos a tentar fazer esse movimento, treinando e encaixando diversas vezes! Quanta paciência e persistência num ser tão pequenino!
É fascinante presenciar estes momentos, especialmente quando ele se autocorrige na pega do cilindro. Imagino que seja uma actividade que possa ser frustrante para um bebé, porque ainda não tem as capacidades motoras suficientemente desenvolvidas para que possa efectuar com sucesso estes movimentos.
Ainda hoje, com os seus quase 3 anos, podemos ter a bênção de presenciar as suas conquistas. Por vezes diz que não consegue, quando está com sono e não paciência, o que é perfeitamente normal. Até nós, adultos, ficamos sem paciência quando estamos com sono.
Mas com um pouco de incentivo e autoconfiança, lá consegue fazer as coisas sozinho e fica todo contente, com um sorriso de orelha a orelha: “O L consegue!”.
Um desses momentos é quando ele quer calçar as suas pantufas e vem sempre ter connosco para o ajudarmos. Começamos-lhe a dizer que consegue e ele por vezes tenta, outras vezes não lhe apetece. Quando tenta sozinho, acaba por nem sempre conseguir.
Mas com um pouco de reforço positivo da nossa parte e o querer e a persistência do lado dele, muitas das vezes acaba por conseguir calçá-las,
E lá fica ele todo feliz.
E claro, o tirar os sapatos está a ser outra das conquistas, porque nem sempre é fácil perceber que primeiro é necessário tirar o calcanhar, para depois tirar o resto do pé do sapato… mas ele lá se desenrasca, embora nem sempre.
Quando eu calço os meus ténis, ele até já me diz como é que devo atar os atacadores e finge ajudar-me (claro, à sua maneira)!
Outro dos exemplos é quando o visto de manhã.
Ele gosta sempre de dar o jeito final de puxar as calças para cima, e já ajuda a agarrar a manga do body com as mãos quando veste a camisola por cima (para depois a manga do body não fugir e não termos que ir andar à pesca…).
Esta fase das frustrações e pequenas conquistas pode fazer parte também dos chamados terríveis dois anos, mas penso que é um período muito importante para eles.
Uma boa dose de paciência e reforço positivo revela-se essencial para desenvolverem a sua independência e autoconfiança.
Sempre que o vejo frustrado ao não conseguir fazer alguma coisa, não interfiro logo.
Espero um pouco e observo o desenrolar da situação. Porventura acabo por perguntar se posso ajudar, e deixo-o tomar a decisão. Umas vezes aceita, outras vezes não. Mas pelo menos sabe que tem o apoio de um adulto, se precisar.
Lembro-me muitas vezes de outra frase emblemática de Maria Montessori: “Nunca ajude uma criança a fazer algo que sabe que consegue fazer sozinha”.
É através da frustração que a determinação ganha outro significado, e as pequenas conquistas são feitas, rumo à independência.
E como é fascinante presenciar estas conquistas…
Como é a tua interacção com os nossos pequenos mestres?
Um homem não é desprovido de sentimentos, embora assim o pareça. Desde os tempos primitivos que o principal papel do homem é garantir a sua sobrevivência e dos que lhe são próximos.
Enquanto a mulher ficava a tomar conta da casa e dos filhos, o homem ia à procura de comida, e tinha o papel de proteger a casa e a família.
Talvez por causa disso tenha assumido uma postura mais rígida, inflexível, e tenha vestido uma carapaça que não deixe transparecer as emoções. Possivelmente também para não preocupar a sua mulher e as crias.
Criámos uma carapaça para não deixarmos ninguém invadir o nosso espaço.
Para dar a entender à sociedade e a todos os que nos rodeiam que somos o verdadeiro macho alfa, aquele que não tem medo de nada e controla tudo e todos.
Mas não é bem assim… os homens também precisam de mimos, colinho e cafunés. Também temos dias menos bons em que precisamos desabafar e sentirmo-nos aconchegados. Precisamos que alguém nos diga que vai correr tudo bem, mesmo que não seja inteiramente verdade.
Precisamos exteriorizar as nossas emoções.
Os homens e não só.
É perigoso esconder as emoções, porque um dia mais tarde podemo-nos vir a ressentir disso mesmo. O nosso corpo vai acumulando as energias que não são libertadas de alguma forma, e depois começam a surgir sintomas estranhos, pequenas doenças que não sabemos de onde apareceram, tensões que o nosso corpo vai adquirindo.
E não nos damos conta disso mesmo, porque vai fazendo parte do nosso dia-a-dia, e achamos que é completamente normal. Aliás, já nem sabemos o que é estar bem.
E que exemplo nós estamos a dar aos nossos filhos, que não vêm o pai chorar?
Uma pessoa forte é aquela que reconhece e não esconde as suas fraquezas.
Quantas pessoas são consideradas líderes por quem as rodeiam, precisamente porque mostram o seu lado humano?
Para sermos adultos emocionalmente fortes, é necessário começarmos desde muito novos a reconhecer as nossas emoções.
As crianças precisam saber lidar com elas. E nós somos o melhor exemplo que elas podem ter.
Temos o dever de explicar-lhes o que estão a sentir num determinado momento. Identificar e perceber que sensações as emoções nos transmitem, e como nos fazem sentir.
Não deve ser fácil, enquanto crianças, conseguirmos lidar com muitos sentimentos e emoções que nos invadem pela primeira vez, além da explosão de sons, cores e texturas que inunda os pequenos exploradores.
Mas só assim nos permitimos crescer emocionalmente.
Lembro-me de um filme em desenhos animados que vi antes do L nascer (quando tínhamos todo o tempo do mundo para ir ao cinema…), que falava precisamente das emoções, o Inside Out.
Este filme explica bem o porquê de termos a necessidade de expressar o que sentimos, além de percebermos que é necessário deixarmos fluir todas as emoções para que as possamos sentir de igual forma. Temos que saber conviver com todas elas.
Cada vez mais os homens estão a deixar de ser aquelas pessoas frias e indiferentes que a sociedade “forçou” a moldar.
Por fora podemos parecer seres insensíveis e inflexíveis, mas por dentro somos todos feitos de amor.
Os homens também choram.
Choram quando estão acompanhados.
Choram quando estão sozinhos.
Choram quando presenciam o milagre do nascimento do filho.
Choram quando morre um avô, uma avó.
Choram quando saem de casa dos pais.
Choram sem razão aparente, apenas porque lhes apetece exteriorizar sentimentos que não devem ficar guardados.
Quando foi a última vez que expressaste verdadeiramente as tuas emoções?
Pode-se dizer que o L está na faixa etária da “tal” crise dos dois anos.
Mas, muito sinceramente, não sei se se enquadra nisso.
Aliás, o que é isso da crise dos dois anos? Provavelmente foi um termo inventado por alguém que viu uma mudança acentuada de comportamento nos bebés que passam por esta idade.
Ou um termo inventado pela sociedade, para rotular o comportamento menos próprio.
Sinceramente não sei.
Hoje em dia tudo tem que ter um rótulo, um nome.
Só assim ficamos mais descansados porque sabemos do que se trata, e sabemos como lidar com isso.
Se existe um problema e tem nome, então tem que haver solução.
Cada vez mais se ouve falar muito de parentalidade positiva, parentalidade consciente, slow-parenting, etc.
Confesso que, para mim, a terminologia não é um factor indicativo.
Muito menos decisivo.
O que realmente importa mesmo é educar o meu filho com base em princípios que vão fazer dele uma pessoa com bons valores éticos, morais e sociais.
No fundo, que seja uma pessoa segura, confiante, altruísta, bondosa, sonhadora e independente.
Se este tipo de educação tem um nome?
Não sei, só queremos que seja Humano.
São princípios que gostamos de instruir desde muito cedo, e, à medida que ele vai-se desenvolvendo, começam-se a notar na forma como ele fala e interage com as outras pessoas, e com o meio envolvente.
Vou contar-te uma pequena história…
Certa vez, estávamos à mesa de um restaurante, e o empregado veio trazer-nos uma garrafa de água. Eu e a minha mulher nem nos apercebemos da situação, quando de repente, só ouvimos o empregado a dizer “de nada”.
Pára tudo! O que acabou de acontecer??
O nosso filho tinha agradecido ao empregado, e o empregado retribuiu-lhe a delicadeza do gesto!
Uma conversa de adultos (embora entre um bebé e um adulto), e o nosso filho tinha interagido com o empregado sem ninguém lhe dizer nada. Soube perceber o gesto que o empregado fez ao trazer-nos uma água, e sentiu que deveria agradecer por esse mesmo gesto.
São momentos como este que nos deliciam, e que nos fazem sentir que estamos no caminho certo.
Desde muito novo que também falamos com ele da mesma forma como falamos para um adulto. Não usamos termos “abébézados”. Os pópós, os piu-pius não existem nas nossas conversas. Não faz sentido usarmos termos que não são os verdadeiros, para que ele fixe esses termos e depois tenhamos que ensinar novamente os termos correctos.
Aprender, para desaprender e voltar a aprender… não, obrigado.
É uma escolha nossa.
O facto também de desde muito novo termos comunicado por gestos, através de BabySigns, permitiu que ele não se sentisse frustrado e fosse sempre um bebé feliz por ter uns pais que compreenderam as suas necessidades.
Estamos também certos que esta forma de comunicar veio trazer-lhe mais segurança e confiança na forma de transmitir as suas emoções e os seus pensamentos, que hoje se revelam de uma forma mais consciente com o seu crescimento.
Sempre explicámos tudo da melhor forma possível para que ele possa compreender, e sempre na base do diálogo.
É muito importante o bebé perceber que é correspondido, e que é uma voz activa na sociedade.
Entendia sempre o que queríamos dizer, e ainda hoje isso acontece.
Mas estamos a falar de um bebé, que ainda está em pleno processo de desenvolvimento. E, tal como todos os bebés, tem os seus momentos menos bons.
Tentamos sempre dialogar, para que ele possa exprimir o que sente, e perceber quais as acções que o levaram a esse estado.
E deixamo-lo sentir as emoções, sem as reprimir.
Até nós, adultos, temos momentos menos bons, quanto mais eles, que estão em pleno processo de desenvolvimento.
Existem muitos artigos com truques e dicas para lidar com um bebé nesta fase. Como se existe um botão mágico para desligá-los quando estiverem a fazer birras… importa sim, seguires o teu instinto e perceber o porquê da “birra”.
Qual a acção que levou aquele bebé a estar naquele estado? Que emoções estará a sentir?
Como seres humanos que somos, também perdemos a paciência.
Apetece-nos “saltar a tampa”, mas suspiramos fundo e tentamos colocar os nossos pensamentos em ordem, para não nos desviarmos da educação que pretendemos dar.
Não somos apologistas de palmadas psicológicas, mas sim de consequências.
Não de consequências fúteis e sem sentido, mas daquelas bem fundamentadas e adequadas à situação.
Fazem sempre parte do nosso dia-a-dia, e quando existe alguma acção menos própria, existe uma consequência, para que ele possa perc
eber.
Se estamos à mesa a comer, e atira o individual para o chão, o individual fica sujo e depois já não pode comer naquele individual, por mais que goste e queira comer como os pais.
Se molha o chão da casa de banho enquanto está a tomar banho, depois terá que limpar.
Tudo o que ele manda para o chão, terá que apanhar.
Claro que também ajudamos, porque os bebés seguem o nosso exemplo. Aprendem muito mais pela acção do que pelas palavras, e por isso aqui em casa temos algum cuidado na forma como pegamos nos objectos, como interagimos uns com os outros, etc.
Não esperes ficar sentado no sofá e ordenar ao teu filho que faça as coisas sozinho, sem dares o exemplo…
Sâo este tipo de consequências que o ajudam a perceber a relação causa-efeito.
O estado emocional dos adultos cuidadores também é muito importante.
O bebé “sente” quando alguma coisa não está bem, por isso o ambiente em casa tem que ser calmo e sereno.
Tens que estar bem contigo próprio, só assim podes ajudar quem precisa.
Cada família tem a sua forma de educar, e não existe nenhuma fórmula mágica que funcione para todos.
Observa o teu filho, e percebe como podes interagir com ele da melhor forma possível, sem o expores ao ridículo, e dando o melhor exemplo possível.
Terrible two? Para quem?
Sinceramente não vejo crise dos dois anos. Vejo sim, um ser a crescer e a desenvolver-se, e que precisa de ser compreendido. E com isso vem a aquisição de novos conhecimentos, novas emoções.